porta entreaberta

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Localização: Viana do Castelo, Portugal

sexta-feira, março 31, 2006

Ensaio de uma poesia nocturna

No seu negro vestido de luz difusa,
No seu pálido rosto de papel,
De si não se sabe se dará a face ao brilho
Mas, na sua escuridade
Pelas estrelas meus pés de algodão
Poisam em si, na noite, o tacto pulsando
Os sonhos vertidos do coração.

para ti C também...

quinta-feira, março 30, 2006

Uma frase de Antonio de Guevara

“Há que endurecer-se sem jamais perder a ternura.”

Um vale de combustível


Irrita-me que, graças à simpatia de algumas entidades comerciais, eu receba descontos em vales de combustível para utilizar em entidades pré designadas e cujo percurso até elas implica um desvio e faz o meu Seat Ibiza consumir gasóleo num valor pouco abaixo desse vale.
Pobre e mal agradecida ou detesto que condicionem meu percurso…

A Memória, Edgar Morin e a Amígdala

Um livro de Edgar Morin

Ouço na rádio uma notícia que cativa minha atenção. A Fundação Bial promove o simpósio “Aquém e Além Cérebro”. Este simpósio inclui a matéria «onde é que a memória é armazenada e como é evocada». Sou levada, pelas memórias fragmentadas, a anos atrás. Eu estudava um livro de Edgar Morin (As Grandes Questões Do Nosso Tempo, Editorial Noticias). Oh livrinho difícil! Aconteceu no contexto de um percurso educativo que acabei por abandonar antes de concluído. Achei tanto de fascinante como angustiante, a dissecação das Questões feita por este Sociólogo e Filósofo. O livro, cujas páginas hoje já estão debulhadas mas ainda embrulhadas sob a capa azul e cinzenta com palavras escritas a vermelho, tem algumas frases sublinhadas a lápis e, entre outros temas, fala sobre: a dúvida em relação ao testemunho e nomeadamente o nosso próprio testemunho; a componente alucinatória na percepção; a caixa preta que é nosso cérebro, que não vê as coisas directamente mas obtêm-nas por tradução; o processo inconsciente que selecciona o que vai para a memória de longa duração; a recordação roída pela traça.
Um livro difícil mas que pode ser bem interessante.

Amígdala?!

Vou mais longe na minha pseudo dissecação e descubro que o nosso cérebro está dividido em três campos de memória, os quais são exemplificados através da máquina computador.
O hipocampo é o monitor.
Segue-se na cadeia de armazenagem a, aparentemente estranhíssima, amígdala… Sim, a amígdala ou tonsila! A glândula que tem a forma e o tamanho de uma amêndoa, e está em cada lado da garganta. Que também se sujeita a adoecer, tanto que, quando eu era criança e minha prima foi operada a ela, guardei como verdade isso ser resultado da dor de garganta.
O máximo que eu pensaria seria a amígdala estar associada á memória dos paladares. Mas não, ela armazena informação. E mais curiosa ainda, consulto o livro “Cérebro e Sistema Nervoso Central” das Selecções do Reader’s Digest e que diz assim: “A paragem seguinte da informação é na amígdala, que contribui para lhes dar uma dimensão emocional. É o equivalente mental de anotar endereços dos sítios onde encontramos a informação ou as razões que nos levaram a consulta-los.”
Por fim, sem grande choque em relação ao termo adoptado, o disco rígido do nosso cérebro chama-se córtex.
Que dia tão instrutivo! Espero amanhã não estar esquecida disto tudo…
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Corrigenda
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Apartir do comentário do 'zumbido' , andei a indagar, para concluir agora, neste texto, a diferença entre a amígdala do cérebro e as amígdalas da garganta, que foram erradamente confundidas na minha investigação escrita acima .
A amígdala do cérebro é a memória das emoções. Os estimulos sensoriais externos são traduzidos em sinais eléctricos e a amígdala comunica com os sistemas sensoriais do cortex através das suas extensas conexões. As amígdalas, na garganta, são outro orgão, constituídas por tecido linfóide que contém células de defesa do nosso organismo, e agrupam as amígdalas palatinas que estão em cada lado da parte posterior da língua; a amígdala faríngea que está na parte mais superior da faringe, ao mesmo nível do nariz; e as amígdalas linguais que estão na parte mais posterior da língua.
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As minhas 'penitências' pelo equívoco... Sou uma leiga na matéria.

terça-feira, março 28, 2006

Sophia de Mello Breyner Andresen escreveu

As Rosas

"Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas"

domingo, março 26, 2006

O sino da minha aldeia tocou…

O seu som foi nítido. Chegou até bem mais perto da minha casa do que habitualmente. - Por causa do vento que vem de baixo – Diz minha vizinha. E continua – é sinal de chuva. Estas sabedorias tradicionais são muito úteis. Mas eu, ainda desconfiada (da chuva!), olhei o céu... também ele me disse que ela vinha.
O sino é um conterrâneo muito dedicado à comunidade. Toca de meia em meia hora nas 24 horas do dia, dos 365 ou 366 dias do ano. Em badaladas insípidas, é verdade, mas esta lá, fiel. Quando domingueiro, ele repica festivamente. Apressa as pessoas para se dirigirem ao templo, para o diálogo com o pároco, em ritual de vozes, ora o pároco ora a multidão em uníssono imperfeito.
Hoje o sino da minha aldeia tocou. Deu dois toques curtos, ganhou fôlego, durante uma pausa que nos deixou apreensivos, e baloiçou cavando fundo, num som pesado e sombrio, vezes e vezes que eu não consegui contar por estar absorvida pela cor fúnebre da sua melodia.

quinta-feira, março 23, 2006

Dia 23 de Março de 2006

Chego, esfalfada. Já escorreguei nas escadas, tombei sobre o lodaçal. E trazia na mão um candeeiro esguio, como quem traz um galho partido de uma árvore qualquer. Ainda o tenho comigo!
Um vento forte uiva-me aos ouvidos. O cão rosna com estranheza. Entreabro a porta, entro de esgueira e em passos cautelosos, para não me pressentirem. As calças farpadas pingam sobre o chão e agito-me a torcer os fios de cabelo pesados da água.
Não está ninguém. Só a cor das paredes, ainda nuas, e os móveis vazios. Entretanto também a luz do candeeiro, quente, que teimo em pegar com os meus olhos, essa tocha pendurada no chapéu creme de aba torcida.
Sentada no chão, já me sinto aconchegada e fito a porta entreaberta no vislumbre de uma silhueta à mistura com a dança da luz opaca da noite...