porta entreaberta

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Localização: Viana do Castelo, Portugal

domingo, abril 22, 2007

Noite de Sábado

Quando eu não acreditava que algo restabelecesse a minha tranquilidade, esgotada durante a semana, a noite de ontem surpreendeu-me. A temperatura estava amena, o rio passava calmo, as luzes reflectiam-se misteriosamente, e as rãs cantavam melodias curiosas. Tudo isto entre um silêncio partilhado.

quinta-feira, abril 12, 2007

Poesia no átrio

Nos últimos seis anos da minha vida profissional percorro, em contratos sucessivos, três Instituições diferentes, de áreas diferentes, sedeadas cada uma num distrito diferente. E, em toda a mudança que acontece no meu contexto profissional, vislumbro uma forma igual de essas Instituições se expressarem.
Elas apresentam-se, de certo modo, através da poesia de Fernando Pessoa (ou um seu heterónimo). Cada uma das Instituições tem exposta, no átrio, uma poesia diferente do poeta, revestida de forma diferente. A primeira, encaixilhada numa estrutura moderna feita de vidro; a segunda, escrita sobre o barro negro; e a terceira, impressa numa simples folha de papel A4.
Deixo ficar aqui a primeira poesia e aquela que me impressionou mais. Guardei-a comigo…
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Apostila de Álvaro de Campos
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'Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Mílton ou ser Virgílio!
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Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos
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Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual para igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempo
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Imagens da vida, imagens das vidas.
Imagens da Vida.
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem fictício...
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Não ter um movimento desconforme com prepósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...
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Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!
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(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo)
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No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?
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Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do destino.'
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segunda-feira, abril 09, 2007

Gota de água

No mesmo instante que eu olhei para ti
Tu olhaste para mim

E deixei cair uma última gota de água na esperança que a tocasses

segunda-feira, abril 02, 2007

Palavras estrangeiras

Algumas vezes, fico cansada pela leitura de certos textos. Cansada de me esbarrar contra palavras estrangeiras. Estas palavras são palavras encaixadas em textos de língua portuguesa; são palavras que tem uma outra correspondente nesta mesma língua, que não é assumida; são palavras que eu não conheço mas que eu procuro conhecer; são, ainda, algumas destas vezes, palavras técnicas para as quais dificilmente consigo encontrar uma tradução à letra que seja útil.
Depois de esbarrar, deste modo, numa palavra, pego no dicionário com o objectivo de conhecer o seu significado. A um número de vezes já insistente de buscas, imagino-me a atirar o dito livro, um calhamaço de 2000 páginas, contra o chão. Mas não, isso não acontece.
Ver tantas palavras estrangeiras têm a ver com importância da língua inglesa na comunicação universal e por isso mesmo eu também me interesso e me proponho a um curso de aperfeiçoamento desse meio. E tem a ver, também, com a moda. Mas esta minha reacção tem uma vertente prática, e uma outra vertente relacionada com uma certo sentimento. Atrever-me-ia a fazer um esboço primário, em bruto e emotivo: a língua portuguesa é uma jóia e a língua inglesa uma bijuteria. Não o digo pela minha afeição a jóias, mas digo-o no sentido do quanto a sinto rica.
Agora, voltemo-nos para anos e anos atrás. Vemos uma História da Língua Portuguesa que se alimenta de outras línguas. Primeiro, tivemos o latim que foi a base da nossa língua; depois, a língua germânica e o árabe; mais tarde, o francês; e, agora, o inglês.
O inglês é bem vindo, mas muitas vezes é demasiado agressivo e em demasia, e é isso que me deixa, atrever-me-ia mais uma vez num esboço emotivo, zangada.