porta entreaberta

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Localização: Viana do Castelo, Portugal

segunda-feira, outubro 22, 2007

Baú Vazio

Hoje acordei para um certo sentimento de vazio, que pode ser provocado pela perda de uns quantos arquivos. São apenas arquivos...São palavras, imagens, conteúdos diversos.

Esvaziou-se um baú cheio de coisas minhas e coisas nossas.

domingo, outubro 07, 2007

Cortaram os trigos

Cortaram os trigos. Agora
A minha solidão vê-se melhor

........Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, setembro 25, 2007

Setembro Dourado

Nos dias quentes deste Setembro fiz uma coisa que eu não fazia há alguns anos: olhei uma eira coberta por espigas douradas e depois emborquei -as para dentro de uns sacos de ráfia que serviriam para as levar até a uma máquina própria para as descaroçar, cuspindo para um lado o caroço e arremassando para o outro uns grãos de milho (isto é uma coisa muito simples…)
Durante alguns anos da minha juventude, vivi intensamente os Setembros dourados. Vivi-os entre as folhagens verdes que arranhavam a pele dos braços, entre os golpes de foicinha sobre a cana do milho, entre os pregos utilizados para romper os folhos das espigas, entre as mãos doridas de tantas vezes torcer a base das espigas e as partir, entre os molhes de palha apertados por uma folha e colocados ao longo dos muros, entre os palheiros com eles construidos.

Neste Setembro, quando olhei a eira coberta de espigas douradas, senti o quanto a vida se modifica. De certo modo, habitou em mim a saudade de uma liberdade que é diferente da liberdade que existe na vida da cidade. Eu não sei muito bem se lhe chame liberdade mas há um sentimento de desprendimento muito próprio deste lugar. Felizmente, este lugar ainda faz parte de muitos bons momentos da minha vida.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Exposição Júlio Pomar

A visita à exposição de Júlio Pomar no Museu Municipal da minha cidade foi uma desilusão. Não quero com isto dizer que me desagradam as pinturas que Júlio Pomar realiza. Numa primeira impressão eu gosto das suas pinturas. Digo numa primeira impressão porque eu ainda não vi os seus quadros atentamente.
Mas a minha desilusão está relacionada com a expectativa que criei. De facto, eu não encontrei nesta exposição o que esperava, os seus quadros. Encontrei alguns estudos, ensaios ou rascunhos. Encontrei os riscos a que o título da exposição alude mas não a cor que anuncia. Alguns desenhos curiosos, mas isso não me bastou…

segunda-feira, setembro 17, 2007

Katie Melua

Hoje sinto-me assim...

sábado, setembro 15, 2007

Oração

O dia de domingo foi dia de festejarmos a família (do lado do meu pai). Estávamos reunidas três gerações. Estes momentos raros sublinham outros momentos que vivemos no passado:
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Estás debilitada...
Sim, já viveste quase toda a tua vida.
Não foi muitas vezes, e não o será muitas vezes na minha vida, que o toque de duas mãos terá a mesma importância que o toque das minhas a apertarem as tuas e as tuas a apertarem as minhas.
E a cumplicidade no teu rosto...
Sabes o que desejei naqueles minutos? Estar contigo, qualquer que fosse o lugar para onde irias.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Chamada n.º 12

Uma certa central telefónica está diferente. Ou não será tão recente esta diferença já que eu talvez não tenha acompanhado a evolução deste tipo de atendimento telefónico. De facto e olhando para trás, lembro-me de ter feito uma chamada para outra entidade que pressupõe um atendimento semelhante, há talvez um ano e meio. Não cheguei ao fim dessa chamada porque desisti.
Hoje eu marco um certo número e entretanto ouço uma voz gravada que começa por se identificar (não a si própria mas à entidade que ela interpreta). Depois essa voz apresenta uma panóplia de alternativas que respondem automaticamente a certas solicitações, cada uma acessível através de um algarismo. Porque não foi escolhida nenhuma das opções, ela encaminha-me para uma conversa directa com um senhor. Esta é a opção residual.
Mas, ser encaminhada para uma conversa directa com um senhor significa ser conduzida por um corredor longo. Neste corredor longo ouço notas de piano intercaladas com uma voz feminina. Primeiro ouço o piano e depois ouço a voz feminina: “a sua chamada é a número 12. Por favor aguarde, obrigada.” E este comunicado repete-se, sempre alternado com as notas de piano. Apenas de anotar, e eu anoto isso muito bem, que o número da chamada vai decrescendo, percorrendo todos os números do doze ao dois: “a sua chamada é a número 2, por favor aguarde, obrigada.” São 20 minutos no corredor até que vejo a sala onde eu poderei para além de escutar também dizer qualquer coisa. Vejo-a ao mesmo tempo que ouço: “ a sua chamada vai ser atendida dentro de momentos, por favor aguarde, obrigada.”
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Não desisti, como aconteceu da outra vez. A voz que me atribui um número mais perto do zero que aquele que me estava destinado minutos antes, encorajou-me. Foi isso que eu achei inovador relativamente a experiências anteriores.
Mas, isso é apenas um pequeno encorajamento, porque a verdadeira razão para não desistir está nas coisas das quais não podemos ou não devemos desistir.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Almoço do Trolha...

... de Júlio Pomar, 1946-50.

(Está em exposição no Museu Municipal de Viana do Castelo O Risco E A Cor)


sexta-feira, agosto 03, 2007

Jantar fora

Em noites quentes como a noite de hoje, apetece-nos jantar fora… fora de casa, no jardim. Cai um fio de água no lago. Ouvem-se os mais diversos sons, das mais misteriosas espécies de animais que rondam pelo pinhal da aldeia.

(O pinhal exerce sobre mim um fascínio que por tantas vezes me senti tentada a expressar. E cada estação do ano permite-lhe uma palpitação diferente. Mas, o pinhal ficará para outra noite.)

quinta-feira, julho 26, 2007

Serviços farmacêuticos

Há de tudo como na farmácia. Esta frase aplica-se especialmente à farmácia que eu visitei nos últimos dias. Para além de medicamentos, existe neste estabelecimento uma enfiada de serviços pouco habituais. As pessoas chegam e demoram-se para além do tempo necessário para a compra dos medicamentos. Demoram-se a conversar. Algumas tomam lá a sua medicação, com acompanhamento do farmacêutico ou dos seus funcionários. Não porque a medicação tenha que ser tomada lá, mas porque algumas pessoas idosas e que vivem sozinhas precisam que alguém lhes dê o medicamento na mão ou na boca para não acontecer um engano. Portanto, eu apercebi-me dos serviços prestados para além dos que constam da actividade económica registada pelo farmacêutico, serviços estes gratuitos.
Hoje o serviço mais notório foi a busca da carteira perdida. Uma senhora velhinha, que acabara de chegar, começou a falar. Ela perdeu a carteira. Ou qualquer coisa parecida com isso, porque ela dizia coisas que no seu conjunto se tornavam confusas: ora dizia que tinha dinheiro dentro da carteira, ora dizia que tinha só documentos, ora dizia que era apenas a carteira, ora dizia qualquer coisa que andava á volta disto.
A velhinha era conhecida da casa pois o farmacêutico, um senhor jovem e atencioso que até habita numa cidade grande mas faz mais de 100 km para prestar serviços de farmácia nesta aldeia pequena, diz-lhe que ela hoje esqueceu-se de vir tomar as gotas, pela manhã. – Fui à vila. - Mas foi á vila sozinha, em dia de feira? Não devia ter ido.
Ela acabou por dizer que queria que o senhor jovem contactasse a instituição bancária onde poderia estar a carteira, a instituição onde ela talvez tenha ido levantar o dinheiro. Mas continuava a não saber se era a carteira ou se era o dinheiro ou se eram os documentos. De facto, o que ela dizia era confuso e o farmacêutico tentou torná-lo o mais possível claro, mas antes de fazer o telefonema ele já sabia que este era inútil.
Esta particular história concluiu-se com a velhinha mais reconfortada, depois de uns momentos de prosa.