Uma certa central telefónica está diferente. Ou não será tão recente esta diferença já que eu talvez não tenha acompanhado a evolução deste tipo de atendimento telefónico. De facto e olhando para trás, lembro-me de ter feito uma chamada para outra entidade que pressupõe um atendimento semelhante, há talvez um ano e meio. Não cheguei ao fim dessa chamada porque desisti.
Hoje eu marco um certo número e entretanto ouço uma voz gravada que começa por se identificar (não a si própria mas à entidade que ela interpreta). Depois essa voz apresenta uma panóplia de alternativas que respondem automaticamente a certas solicitações, cada uma acessível através de um algarismo. Porque não foi escolhida nenhuma das opções, ela encaminha-me para uma conversa directa com um senhor. Esta é a opção residual.
Mas, ser encaminhada para uma conversa directa com um senhor significa ser conduzida por um corredor longo. Neste corredor longo ouço notas de piano intercaladas com uma voz feminina. Primeiro ouço o piano e depois ouço a voz feminina: “a sua chamada é a número 12. Por favor aguarde, obrigada.” E este comunicado repete-se, sempre alternado com as notas de piano. Apenas de anotar, e eu anoto isso muito bem, que o número da chamada vai decrescendo, percorrendo todos os números do doze ao dois: “a sua chamada é a número 2, por favor aguarde, obrigada.” São 20 minutos no corredor até que vejo a sala onde eu poderei para além de escutar também dizer qualquer coisa. Vejo-a ao mesmo tempo que ouço: “ a sua chamada vai ser atendida dentro de momentos, por favor aguarde, obrigada.”
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Não desisti, como aconteceu da outra vez. A voz que me atribui um número mais perto do zero que aquele que me estava destinado minutos antes, encorajou-me. Foi isso que eu achei inovador relativamente a experiências anteriores.
Mas, isso é apenas um pequeno encorajamento, porque a verdadeira razão para não desistir está nas coisas das quais não podemos ou não devemos desistir.