Rostos mudos e quietos
Este sítio parece-te tão árido mas, apesar disso, percorres o carreiro ladeado de mármore. Ouves o vento e algumas vezes a água da torneira que jorra e depois borbulha no balde, a água que utilizas na preparação das flores. Apercebes-te, entretanto, que está outra pessoa mais além, que faz uns movimentos semelhantes aos teus. Mas estão tão longe uma da outra que se sentem, do mesmo modo, sós. Estás de corpo aninhado e de repente levantas-te e sentes tonturas. Dizes – para a próxima trago o chapéu, para tapar este sol. Mas para a próxima voltarás a fazer o mesmo. Voltarás a estar com o corpo aninhado, levantar-te-ás de repente, sentirás tonturas. E depois farás queixa do sol, do chapéu que ficou em casa, fecharás os olhos para esconderes o sol e o truque suavizará a tontura.
Agora, vês uma lagartixa que se esgueira de um buraco e que está sem parte do seu rabo. A lagartixa sobrevive sem essa parte do seu rabo. Durante a tua idade pequena, vias de perto muitas lagartixas. Acreditavas que, quando elas não tinham parte do rabo isso acontecia porque vocês o cortavam com as pedras que lhes atiravam, e achavas curioso como elas sobreviviam. Depois, leste algures que eram elas próprias que o amputavam como uma técnica para se protegerem, e esse rabo não lhes fazia falta alguma.
Mais perto da noite, neste sítio, há um grande burburinho. Mulheres e alguns homens que trazem até aqui a azáfama da vida. Tu vens a esta hora porque te agrada este silêncio. Estão a rodear-te uns rostos mudos e quietos, olhas para eles e pensas coisas que as pessoas esquecem. Isto, por causa dos teus sonhos. Sonhaste muitas vezes com este sítio. Sonhos estranhos, inquietantes, confusos e até assustadores. Nunca percebeste a origem verdadeira dos sonhos, mas, algures, isso aconteceu como uma depuração. E quando me olhas, faze-lo num gesto de contemplação. Eu fui um ser anónimo para ti, ao contrário de quem recebe essas flores pelas tuas mãos. Mas olhas-me, também, porque há algo de igual. E, de mim, conheces apenas o nome, os olhos que vês na fotografia, que já não existem, e as minhas duas datas, gravadas no mármore sob a cruz.
Agora, vês uma lagartixa que se esgueira de um buraco e que está sem parte do seu rabo. A lagartixa sobrevive sem essa parte do seu rabo. Durante a tua idade pequena, vias de perto muitas lagartixas. Acreditavas que, quando elas não tinham parte do rabo isso acontecia porque vocês o cortavam com as pedras que lhes atiravam, e achavas curioso como elas sobreviviam. Depois, leste algures que eram elas próprias que o amputavam como uma técnica para se protegerem, e esse rabo não lhes fazia falta alguma.
Mais perto da noite, neste sítio, há um grande burburinho. Mulheres e alguns homens que trazem até aqui a azáfama da vida. Tu vens a esta hora porque te agrada este silêncio. Estão a rodear-te uns rostos mudos e quietos, olhas para eles e pensas coisas que as pessoas esquecem. Isto, por causa dos teus sonhos. Sonhaste muitas vezes com este sítio. Sonhos estranhos, inquietantes, confusos e até assustadores. Nunca percebeste a origem verdadeira dos sonhos, mas, algures, isso aconteceu como uma depuração. E quando me olhas, faze-lo num gesto de contemplação. Eu fui um ser anónimo para ti, ao contrário de quem recebe essas flores pelas tuas mãos. Mas olhas-me, também, porque há algo de igual. E, de mim, conheces apenas o nome, os olhos que vês na fotografia, que já não existem, e as minhas duas datas, gravadas no mármore sob a cruz.