Garrafa da água
A garrafa da água está na mesa. A água não está morna e também não está quente. Mas apetece-nos que ela esteja mais fria do que ela está. É que há um sol atrás das persianas, muito luminoso na sua luz. Ele deixa a atmosfera, que está sobre a arena despida e loura, trémula de delírio. Seu porte sustenta um calor muito forte.
Um papel de diversos azuis está enrolado sobre o plástico lúcido da garrafa da água. É o azul mais claro no fundo do papel. São os azuis mais escuros mas diferentes entre si, na imitação da água, nas palavras ‘água mineral natural’ que estão escritas em quatro línguas, na descrição da composição química, no código de barras. É o azul no nome da água.
São 150 centilitros de água que servirão o nosso ritual. Os dedos cercam o corpo da garrafa, a tampa é desenroscada com meia volta, a garrafa é erguida, o seu gargalo é encostado aos nossos lábios, e a água é mergulhada na boca.
E depois? Depois queremos deixar cair a água para além das nossas bocas, queremos molhar o queixo, molhar o pescoço, e, quem sabe, molhar a camisa, as calças e as unhas dos pés. Uma cachoeira de água fresca, junto a umas rochas e às sombras húmidas das árvores.
Será um delírio? Não sabemos muito bem. Sabemos apenas que, quando voltamos a fechar a tampa em meia volta sobre o gargalo, tombamos sobre o cadeirão de estofos pretos, talvez vencidos pelas quatro paredes que nos rodeiam.
Será um delírio? Não sabemos muito bem. Sabemos apenas que, quando voltamos a fechar a tampa em meia volta sobre o gargalo, tombamos sobre o cadeirão de estofos pretos, talvez vencidos pelas quatro paredes que nos rodeiam.
4 Comments:
E nunca ninguém deu tanta importância a uma garrafa de água!
Bonito.
Beijos
Um dia de muito calor fez-me olhar para a garrafa de água de maneira tão atenta :).
Felizmente os dias estão mais suaves.
Bjs
Um texto fresco com certeza, despertando os sentidos como é natural nas tuas letras. Talvez não devesses ficar só no desejo de de derramar o mais nobre dos líquidos sobre ti... Com este calor nem o melhor dos cadeirões é valorizado em relação à lúxuria do refrescar do corpo e da alma..
Sim, tens razão. As férias, finalmente, permitem sair de perto do cadeirão, e usufruir de outros divertimentos e passeios refrescantes. Bj
Enviar um comentário
<< Home