porta entreaberta

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segunda-feira, abril 10, 2006

'Sinais de Fogo' na minha estante

Há um livro, temporariamente na minha estante, de Jorge de Sena.
Tudo começou com os meus sapatos sobre o chão, a fazer um ruído metálico intermitente nos corredores da biblioteca em direcção ao espaço onde se encontrava o volume de Auditoria Financeira. Pensei, enquanto deambulava as estantes com os meus olhos, que a contabilidade e afins não levariam a melhor. Para fazer frente aos números, quis eu que as letras marcassem presença. Os números até podem ser o marido que me sustenta, mas as letras são o outro, sem compromisso escrito, sem cobrança, livre, e que está no coração. Pois bem, dirigi-me à secção de literatura portuguesa e de olhos vendados peguei naquele que me pareceu mais agradável ao trato da mão. Saiu Jorge de Sena e os seus Sinais de Fogo.
No virar das folhas percebi o sentido do título e o fogo que a história insere. Página em página, o livro assalta-nos com as suas aventuras carnais variadas, e no amadurecer da leitura apresenta-se num amor apressado mas intenso, de umas férias de verão. Vinga este amor? Ou fica apenas espraiado nas areias da Figueira da Foz, longe dos seus vassalos, que estão de partida, aparentemente cada um para seu lado? Também o narrador se envolve em profundas e por vezes, para mim, confusas meditações sobre ele e os outros, os actos e as consequências.
“… a liberdade como uma maldição irredutível a quaisquer razões dos outros e do mundo.” Aqui fiquei eu, paralisada neste ponto final, durante longos dias, depois de 404 páginas.
Garantida a leitura por um privilégio de requisição a longo prazo, ainda estou aguardando o despertar da minha inanição, porque ainda tenho que descobrir se alguma certeza o autor conseguiu agarrar das suas cogitações.